CARNAVAL DE MAQUETE
Depois da tormenta sempre vem a alegria...sou chuva, sou Campos Gerais, numa tempestade de euforia!
Carnavalesco : RENATO GARCIA
Samba utilizado(Escola/Ano) : X-9 Paulistana , 2015
Interpréte :
SINOPSE
Autor(es) : Renato Garcia
Autor do Enredo: Renato Garcia Autores da Sinopse do Enredo: Renato Garcia e Vilmara Sazzana da Silva Depois da tormenta sempre vem a alegria...sou chuva, sou Campos Gerais numa tempestade de euforia! Justificativa: Em linhas gerais, a evolução dos desfiles das escolas de samba tem dado relevância a diversos temas que, trazidos a luz, cores e samba, agregam conhecimentos de modo popular. É um jeito de emanar cultura a partir de conhecimentos pre existentes dos mais diversos povos e lugares. Usar a arte para falar de nós mesmos é o cerne de nosso desfile . A existência, de maneira geral, necessita de um elemento essencial: a água. Esse líquido tão precioso e indispensável a vida nos chega através de um fenômeno meteorológico resultante da precipitação de suas gotas contidas nas nuvens, sobre a superfície terrestre: a chuva. Através dela, a água atinge os solos, enche os rios e lagos , além de fortalecer os mananciais . Brindando o planeta com sua força vital, a chuva revigora toda a vida existente, beneficiando de forma direta o meio ambiente. Ao tratarmos a chuva com linearidade, negamos sua complexidade de elementos e formas. Suas características e infinidade de fatores, suas tradições, cultos e simbologias. Ao olharmos mais de perto , percebemos que a chuva, esse fenômeno tão peculiar, permeia por entre crenças , religiões , culturas e tantos aspectos que nos cercam, mostrando como esse bem tão precioso sempre deve ser saudado , afinal, é preciso aprender a gostar de chuva, para poder então, apreciar o arco-íris, já disse Paulo Coelho. Sinopse: Pesquisas recentes apontam que não apenas a humanidade nasceu na África, como também os negros africanos estão entre os primeiros a construir civilizações humanas e erigirem bases da própria civilização ocidental. Um desses povos , os iorubas , que chegaram como escravos em nosso país, associam o elemento água como algo que remete diretamente ao sagrado, a vida, aos Orixás. E essa crença é que influi principalmente, no caráter pelo qual esses povos tratam o seu ambiente: uma forma harmoniosa, afetuosa e coletiva, no que diz respeito a interdependência entre a natureza e a crença. A água, que chega a terra através da chuva, é muito utilizada nas religiões de matriz africana. Em diversos rituais ela aparece tendo um significado muito importante, desde aquele que acalma , até o que limpa. No panteão africano ioruba, muitas são as divindades ligadas ao elemento água e por conseguinte, a chuva: Oya, ou Iansã, conhecida pelos ventos e raios. Xangô, o senhor da justiça e dos trovões. Oxum, a mãe das águas doces e o arco-íris, que se faz presente na figura de Oxumaré. Nas relações humanas com o meio ambiente, vemos que diferentes sociedades, desde os antigos gregos, até os povos pré-colombianos, passando por africanos e asiáticos, ao longo da história da humanidade, trataram a chuva como algo divino, criando mitologias e lendas para os guardiões da chuva nas mais variadas culturas. Esses povos, tratavam o fenômeno da precipitação de forma bem diferente de como o vemos hoje em dia, quando , por vezes, esquecemos que a chuva que molha a terra jamais volta para o céu senão depois de tê-la fertilizado. Sua missão é dar vida, fecundar o chão para que nada falte aos seres humanos. Desde tempos imemoriais ela está presente em nosso meio, sempre realizando seu ciclo, trazendo vida e esperança aos mais diversos povos. Os antigos egípcios baseavam toda sua vida a partir das inundações do rio Nilo, havia o tempo da cheia e o tempo da vazante. Para os romanos, a importância da agricultura se mostra na figura de Ceres, aquela que cuida das plantas que brotam. Enquanto no Xingu os índios Pataxós se auto denominam os filhos da chuva. Os povos do oriente, em especial do sudeste asiático, desenvolveram o cultivo do arroz em larga escala utilizando todo um calendário de chuvas, a mesma chuva que chega em forma de monções, revigorando os espíritos e corações da população indiana. A tradição judaico- cristã , responsável por boa parte do pensamento religioso da sociedade ocidental, nos mostra como a chuva se apresenta das mais diferentes maneiras: para convencer o faraó a deixar o povo que era cativo ir , uma chuva de granizo e fogo cai sobre o Egito. Já livre , e em peregrinação pelo imenso deserto, uma chuva de maná saciou a fome do povo que rumava à Canaã. Durante a batalha de Gibeão, soldados de Josué tiveram a ajuda de uma chuva de pedras de gelo que matou os inimigos de Israel. Ainda, segundo o Apocalipse, durante a abertura do sexto selo, uma chuva de meteoros deve atingir a Terra , a mesma Terra que , outrora, havia sido destruída pela chuva mais conhecida da história: o grande dilúvio, que poupou apenas a família de Noé e os animais salvos na arca...crenças do povo de Israel. E eis que de repente o tempo fecha, fica escuro e chuvoso. Relâmpagos, ventos fortes, um aguaceiro. Outras vezes, ela vem em forma de gelo , fria, cortante e penetrante...pedras de granizo. Mas lembre-se que por trás das nuvens pesadas e escuras existe um sol brilhante e pronto para aparecer. Contudo, sol sem chuva também não é bom sinal. Enquanto algumas regiões do país sofrem com enchentes em determinadas épocas do ano, como as cheias de São Miguel que sempre preocupam e castigam o extremo sul, no nordeste é a falta de chuva que leva milhares de sertanejos a se agarrem em São José e pedir “um tiquin d’água”...paradoxos daquela que as vezes é só uma garoa, outras vezes um aguaceiro, mas que nos dá de beber e também alimenta a terra. Que simplicidade, apenas isso: chuva. E mesmo quando não a percebemos, ela está lá, presente em nosso cotidiano e habitando nosso imaginário . A fé popular criou a ideia de que Pedro, o primeiro Papa para os católicos, é o responsável pelas chuvas que são mandadas ao mundo. Nas imensas telas , o cinema eternizou belas imagens como o beijo entre Mary Jane e o Homem- Aranha, a fuga de Andy Dufresne em Um Sonho de Liberdade, a perseguição do famigerado Tiranossauro Rex aos exploradores de Jurassic Park e é claro, a cena imortalizada por Gene Kelly pendurado num poste em Cantando na Chuva . Vitórias e conquistas , bem como a virada do ano, são regadas com uma chuva de champanhe. Isso sem contar a tradição em torno do amor, do casamento e da família, que associa uma chuva de arroz a boa sorte do casal em seu futuro como marido e mulher. Enfim, para celebrar esse fenômeno tão especial é que o Império dos Campos Gerais, o leão de Ponta Grossa , novamente pede passagem. Traçando uma abordagem sobre a complexidade da chuva, seus usos e atribuições. E para além de sua distribuição e consumo, constrói uma perspectiva cultural e mitológica, lembrando que depois da tormenta sempre vem a alegria ! Portanto, armem seus guarda-chuvas, e venham festejar conosco, afinal ,sou chuva, sou Campos Gerais numa tempestade de euforia ! Setorização do Desfile SETOR 01: AS ÁGUAS SAGRADAS NA ANCESTRALIDADE NEGRA Vento forte a soprar, Oiá Oxum, Nanã e Xangô Salve os Orixás... Os iorubás vivem principalmente no sudoeste da Nigéria, sudeste de Benin e em menor número nas regiões do centro-sul do Togo. E foi durante o tráfico negreiro , que a religião iorubá cruzou o Atlântico e influenciou definitivamente as religiões de matriz africana em nosso país. Conforme a cosmogonia ioruba , Olorum, o Ser Supremo, serve-se de auxiliares para criar, manter e transformar o mundo. Esses seres , os Orixás, são divindades representados pela natureza, que ensinam e auxiliam a humanidade a viver no planeta. Sendo assim, as crenças dos povos africanos influenciam de forma decisiva na maneira em que eles tratam o meio ambiente. A água é um elemento natural importantíssimo não só para o culto dos Orixás, mas para tudo em nosso planeta. Considerada “a Grande Mãe, o Sangue da Terra, a Essência da Vida e o Axé de Todos!” A água tem relação com as Yabás , as Orixás femininas, mães e rainhas. Cada um desses Orixás domina uma fonte própria de água como: rios, mares, lagos e cachoeiras. Também associada à fecundidade, riqueza e à feminilidade. Não à toa que a água é reverenciada como elemento portador do axé da vida, essencial para renovar todas as situações. SETOR 02 : O PANTEÃO QUE REGE AS ÁGUAS SAGRADAS Lendas, rezas , rituais Uma dança que atrai Um lindo véu sagrado... No desenvolvimento da humanidade, várias foram as sociedades que procuraram explicações aos fenômenos naturais. Muitas culturas antigas possuíam divindades relacionadas a chuva, e isso deve-se ao desejo do homem em conhecer suas origens, identidades e ambientes, por esse motivo é que, em muitas comunidades primitivas era o xamã, figura responsável pelos ritos de chuva, a pessoa mais importante. Os rituais dedicados à chuva relacionavam-se com a fecundidade e fertilidade da terra, portanto, possuíam uma liturgia própria em cada etnia . Sendo assim, a mitologia que criou -se em torno da chuva trouxe a tona um grande número de divindades concernentes as precipitações . Dentro dessa perspectiva ,a humanidade buscava explicações para esse fenômeno climático e como não possuíam a gnose necessária, recorriam a religião para , dessa forma, compreender as causalidades das intemperes, incorporando os fenômenos climáticos em seus sistemas de crenças e cerimônias. SETOR 03: CULTURAS E TRADIÇÕES DOS POVOS E SUA RELAÇÃO COM A CHUVA Florescendo esse chão És divinal No dia a dia é essencial... Cada sociedade expressa de maneira diferente sua relação com a natureza e , infelizmente, nos dias de hoje , para muitos , a chuva tornou-se um empecilho. Mas não se pode esquecer que sem a chuva, os agricultores terão sérias e reais consequências. A água, como fonte de vida, é o poder gerador; é aquela que fertiliza e nutre a terra, conhecida outrora como a Grande Mãe. Os nossos antepassados possuíam uma visão bem diferente da sociedade atual sobre a chuva. Para determinados grupos ou povos, os seres e os eventos ligados a precipitação eram intimamente ligados a mãe natureza, portanto, sagradas em sua essência. As tradições ancestrais devem ser lembradas e reverenciadas ; honrando nossos antepassados, transmitimos as futuras gerações - herdeiros legítimos do planetao quão devemos nos sensibilizar com os mitos, lendas e povos que fizeram e ainda fazem ligação direta com as “lágrimas que vem do céu”. Os diferentes povos possuem um calendário ecológico próprio , onde celebram-se ritos pela chegada da temporada das cheias. Com o advento da chuva as flores desabrocham, as folhas mudam de cor, a vida se reproduz. Com a chuva, sempre bemvinda, é tempo de festa, tempo de colheita, tempo de fartura. SETOR 04: A CHUVA E AS ESCRITURAS SAGRADAS Ó chuva tu és a minha inspiração Foi dilúvio e destruição A arca de Noé a salvação... A bíblia é uma coletânea de escritos com valor sagrado para os cristãos e de forma parcial para os judeus, que seguem , basicamente o Antigo Testamento. Narrando as interpretações religiosas da verdadeira razão da existência humana sobre a Terra, ela é um importante documento doutrinário e considerado de inspiração divina. Ao ler a bíblia, se percebe que ela nos fornece poucas informações sobre condições climáticas, contudo, são muitas as passagens sobre a chuva, seja a precipitação propriamente dita, quanto outros tipos de “chuva”. Diferente de todos os deuses tidos como pagãos, Yavé, não era apenas um “deus da chuva” .Para o povo de Israel, Ele era o criador de tudo que existia, podendo enviar e retirar a preciosa chuva , assim como outros fenômenos naturais. Os israelitas acreditavam que as chuvas da primavera e do outono ,prometidas por Deus , eram como bênção para os seus filhos fiéis. Outras vezes, a precipitação resulta também em espinhos e abrolhos, e, não raro, outras chuvas , que não de água, aparecem nas citações para ferir os iníquos e impuros. De fato, são muitas as passagens bíblicas sobre a chuva; tanto que as traduções em grego e hebraico para chuva aparecem no livro mais de cem vezes. Sendo, para os crentes em suas palavras, um presente de Deus, de onde tudo emana. Tiago resume em uma passagem bem essa ideia: toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes... SETOR 05 : CHUVA NOSSA DE CADA DIA Deixa chover, deixa molhar... No céu, nuvens se espalham pelo ar... A fonte que dá vida ao meu carnaval... Atualmente, a água deixou de ser um bem natural , detentora de símbolos e culturas , sendo rebaixada ao status de simples recurso híbrido utilitário. Assim, a racionalidade do mundo moderno , de caráter extremamente capitalista, trouxe como resultado um mundo moderno, onde o homem perde valores simbólicos, explorando a natureza, esquecendo-se do valor que seus recursos tem para nossa existência. Nosso país possui a maior concentração de água doce entre os países, não sendo esse fato o suficiente para que nossa relação com a água seja de preservação. Por falta de consciência, conhecimento e informação, continuamos a poluir rios e lagos que nos dão de beber. Sabemos que a água, vinda da chuva, é essencial para nossa existência e para a vida do planeta, por isso é preciso construir uma mudança de paradigmas para aprender a preservar, cuidando do que é nosso. Ao extremo, tudo é ruim. Quando temos demais, a chuva pode nos causar problemas, se a temos de menos, os danos são igualmente terríveis, por isso, conhecer a natureza que nos cerca e , mais que isso, aprender com ela, é imprescindível para a simbiose homem-natureza. É preciso preencher a lacuna entre as relações humanas com a natureza, para que, o mais breve possível, seja reconstruído nosso sentimento de pertença a ela. Só assim, é que encontraremos o perfeito equilíbrio entre os limites da ciência, o conhecimento tradicional, a relação entre fé , chuva e cultura, entendendo que o ser humano é apenas mais uma parte desse imenso complexo chamado planeta Terra. SETOR 06: CHUVA NO POPULAR Nos contos imortais, a sorte dos casais Cantando na chuva de prata que cai De alma lavada Jogo confete e serpentina pelo ar... Passada de geração em geração a cultura popular tem suas tradições orais, escritas e imateriais. Dentro dessa ótica, é quase impossível não associar a chuva a elementos tão comuns a cultura do dia a dia. Quem nunca ouviu falar que São Pedro é o “manda chuva”? Primeiro papa, ele possui as chaves do céu, pelo menos é assim que se aprende desde cedo nas casas piedosas ou nos catecismos da vida. Em salas de cinema, ou no conforto do nosso lar, os filmes traçam enredos enaltecidos pela chuva. Podemos dançar na chuva, fugir pela chuva ou , simplesmente, tomar um banho de chuva. A chuva pode ser alegre, esperada...pode traduzir sentimentos de felicidade, principalmente quando ela é doce, espumante , de champanhe fina , ou sidra barata...o importante é comemorar ! E que comemoração melhor que o carnaval, onde coloridas chuvas de confetes e serpentinas enfeitam ruas, praças, salões e avenidas. E eis que a paixão de carnaval, o beijo no escurinho do cinema se transforma em amor verdadeiro. E quando isso acontece, a chuva pode abençoar essa união, desejando um futuro promissor, assim, nada melhor que uma chuva de arroz, bendizendo os corações de todos que amam. Samba E
Autores: Denola / Digo Sá / Fabinho NT / Vitor. Escola: X-9 PAULISTANA ( 2015 ) Deixa chover, deixa molhar A nossa festa não tem hora pra acabar Eu quero ver você sambar Com a X-9 até o dia clarear No céu, nuvens se espalham pelo ar Cigarras cantam pra te anunciar Oh chuva, tu és a minha inspiração Foi dilúvio e destruição A arca de Noé, a salvação Lendas, rezas, rituais Uma dança que atrai Um lindo véu sagrado A fonte que dá vida ao meu carnaval Vento forte a soprar, Oiá Oxum, Nanã e Xangô,salve os orixás Num arco íris de luz vem Oxumaré Para nos banhar com o seu axé Meu São José O sertanejo clama em oração Que venha desaguar no meu sertão Florescendo esse chão És divinal No dia a dia é essencial A consciência está em alertar pra não faltar Nos contos imortais, a sorte dos casais Cantando na chuva de prata que cai De alma lavada Jogo confete e serpentina pelo ar 40 Anos hoje vou comemorar Pra sempre vou te amar