CARNAVAL DE MAQUETE
Magia no Reino do Curupira
Carnavalesco : Eduardo Wagner
Samba utilizado(Escola/Ano) : Grêmio Recreativo Acadêmicos de Samba da Pedreira, 1999.
Interpréte : Rico Medeiros
SINOPSE
Autor(es) : Eduardo Wagner
ENREDO: Magia no Reino do Curupira.
Autor: Eduardo Wagner
INTRODUÇÃO.
A Amazônia é um estado
de espírito para quem nasce aqui! Para onde se olha se têm florestas e
rios que as costuram, mesmo que precisem dividir espaço com os centros urbanos.
Quando paramos para perceber nossa relação com a floresta, nesses mundos de
prédios e asfalto, vemos que há muito mais da floresta em nós do que
imaginamos, pois os mitos, os deuses, as lendas, o imaginário são parte de nós
também.
O mito é a forma mais
antiga e ainda viva de explicação do mundo e de ensinamentos morais a partir da
observação da natureza e do comportamento humano. O mito é a essência de todas
as civilizações e em um contexto como o da Amazônia, em sua vastidão e
diversidade étnica e biológica, os mitos não poderiam ter se não a pluralidade
como grande característica. Por isso, existe um sem-número de lendas e
narrativas mitológicas oriundas de nossos ancestrais, em suas inúmeras etnias.
Segundo João de Jesus
Paes Loureiro (1994), poeta, professor e escritor dessas bandas do Brasil, a
cultura amazônica seria uma poética do imaginário, um atravessamento de
milênios que carrega em si todo o imaginário indígena e suas leituras da vida e
da natureza, tendo a floresta e os rios como cenário. O mito, na Amazônia, vive
entre nós mesmo no cotidiano urbano das cidades grandes como Belém ou Manaus. E
continua a exercer sua função de ensinamento empírico, para que compreendamos a
relação homem-natureza e a construção de nossos valores morais.
Essa poética foi o pano
de fundo para o enredo “Magia no Reino do Curupira”, apresentado pelo Grêmio
Recreativo Acadêmicos de Samba da Pedreira, no carnaval de 1999, em Belém do
Pará. Uma fantasia contemporânea, muito acertada, criada pelo médico Alfredo
Oliveira e pelo professor Edson Berbary.
O enredo misturaria os pássaros amazônicos, em seu habitat
natural protegido pelo Curupira lendário, com os folclóricos “pássaros”
juninos. Edson Berbary, todavia, sentiu a força do
duende defensor das matas e achou que ele poderia ser um magnífico tema
central. Em torno dele viriam os pássaros e a natureza da floresta. Concordei
com a ideia que foi intitulada “Magia no Reino do Curupira”. (OLIVEIRA, 2006, p.
209).
O desfile do Acadêmicos
da Pedreira foi fabuloso! Debaixo de uma chuva torrencial, atribuída ao próprio
Curupira, que durou exatamente o tempo do desfile, a escola apresentou sua
narrativa fantástica e colorida pelas cores dos pássaros amazônicos. Além de
fazer a interessante mistura citada por Alfredo Oliveira, destes com os
“pássaros” juninos.
Os Pássaros Juninos são
entes da cultura popular junina típica da cidade de Belém, com ocorrências em
outros municípios do estado do Pará. Seguem narrativa e estrutura de
apresentação semelhantes às dos bois bumbás. Porém, o personagem principal é um
pássaro encantado (rouxinol, tangará, tentém etc.) que é morto por um caçador.
Em linhas gerais, ele precisa ser ressuscitado para que o equilíbrio da
floresta seja restabelecido. Aí, se misturam pajés, fadas, índios, nobres,
feiticeiras, caçadores... em uma rica paleta de personagens.
O enredo da Arco Íris
para o Carnaval 2020 da UESM é uma grande homenagem à
esse desfile memorável do Acadêmicos de Samba da Pedreira, escola do bairro
onde cresci e vivo ainda hoje. Da mesma forma como em sua edição original, traz
a criação de uma narrativa imaginada como uma fantasia contemporânea inspirada
nos arquétipos e personagens mitológicos indígenas e da cultura popular
amazônica, onde o Curupira continua a ser o personagem principal, e a floresta,
seu Reino.
Porém, a Arco Íris faz
uma releitura do enredo de 1999, buscando construir metáforas da realidade obscura
vivida pela Amazônia nos dias sombrios da atualidade, criando outras narrativas
misturando deuses, entidades e criaturas da floresta e dos rios, das quais o
Curupira é o personagem principal, que dá um ensinamento aos homens por meio
das histórias dos pássaros juninos.
Nas palavras de Alfredo
Oliveira: “O Curupira terminou sendo o
responsável pelo primeiro título de campeão conquistado pelo Acadêmicos da
Pedreira” (OLIVEIRA, 2006, p.215). E ele também é responsável pela escolha
deste enredo, pois aquele desfile de 1999 foi o meu primeiro, quando eu era
integrante da bateria do Acadêmicos, tocando minha platinela, fantasiado de
Gavião Real (símbolo do Acadêmicos). Por isso, este carnaval é uma homenagem e um
rememorar de afetos, além de se fazer protesto diante da necessidade de
valorização e preservação da Amazônia em sua materialidade e imaginário.
SINOPSE.
“Magia no Reino
do Curupira”
A Floresta Grande, que
chamamos de Amazônia, é o lugar do Reino da criatura Curupira – ser que quase
nunca se mostra e é difícil de se achar. Dizem que ele é como um índio pequeno,
mas tem a pele verde como a verdidão profunda da floresta. Tem cabelos escuros,
talvez avermelhados, e olhos incandescentes. E seus pés são voltados para trás,
para despistar quem tenta encontrá-lo. Mas, isso é o que dizem. Talvez ele
assuma até formas diferentes, pois é esperto demais. Seu Reino está oculto na
Floresta. Está lá, mas não se vê. E só se vê com sua permissão! Não é qualquer
um que entra no Reino do Curupira!
Certa vez, estava pelas
matas dessa floresta um caboclo chamado Nazareno, que se atocaiava tentando
achar Rasga-Mortalhas pela
madrugada, quase de manhã, para caçá-las, pois dizem que são bichos agourentos
e seu piado noturno não deixava Nazareno dormir direito. Foi então, que o
Curupira, entranhado nas árvores, percebendo que Nazareno não era homem mal e
fazia aquilo sem saber que era errado, resolveu dar-lhe uma lição dessas que
ele gosta de dar. Até porque as Rasga-Mortalhas não são bichos para se brincar...
O Curupira, então,
surge de trás das asas de um papagaio que estava por ali, trepado em um galho,
e traz consigo Encantados Gaviões para mundiar
Nazareno por um pouco e trazê-lo até ele. Assim, Nazareno foi mundiado pelos
Encantados até se deparar com o Curupira. Após dar um bom ralho em Nazareno,
ensinou o caminho para entrar em seu Reino, onde lhe contaria uma história,
para que ele não mais caçasse pássaros e aves apenas por maldade. “Siga o
Papagaio!”, disse o Curupira! Quando disse isso, uma revoada de Saís revelou um
lindo arco íris no meio das folhas.
É preciso ter coração
bondoso para encontrar esse caminho revelado pelos raios da luz de Guaraci, luz
emanada de seu olho amarelo que doura e cintila a mata. E ela que revela o
caminho da magia até o Reino do Curupira. Dizem que o único guia até a entrada
do Reino da criatura é o Papagaio do
Bico Dourado, ave de grande estardalhaço, que brilha como luz quando tocado
pelos raios mágicos de Guaraci! Ave a quem o Curupira ordenou Nazareno a
seguir.
Depois que o Papagaio
se torna brilhante, encantado pela magia dos raios de Guaraci é hora de, junto
com ele, se arvorar pelas matas e observar os quatro sinais que indicam a
proximidade do Uirapuru: a dança das borboletas no meio das folhas
é o primeiro. O segundo é o céu colorido pelas cores do raiar do dia, momento
em que é preciso seguir a verde sinfonia
que atravessa as matas, suas cores e flores e faz as borboletas dançarem, o
terceiro sinal: o magnífico canto do pássaro, pois o Uirapuru é o único que
pode assistir o raiar do dia, e, por
isso, canta em agradecimento aos deuses. Por fim, quando se avistar os Sanhaçus dançando onde as fontes de
água são brilhantes é hora de avistar o Uirapuru em seu ninho.
Pelo canto doce e
mágico do Uirapuru, protegido em seu ninho por Garças Douradas e Encantados
da Floresta, se chega ao Reino do Curupira, onde os Espíritos da Floresta
formam uma corte de penas e cores para receber quem conseguiu entrar. Revoadas
de Passarinhos Coloridos formam a
corte, e também Garças Cunhãs, Guarás Guerreiros e Galos-da-Serra Pajés! Há ainda Tucanos, Araras e Periquitos... Uma
revoada de aves e pássaros mágicos que habitam aquele Reino e formam sua corte,
vivendo em harmonia com todos os outros animais da floresta, bichos da terra e
da água.
Quedas d´água,
igarapés! Bichos, todos... Da terra, das águas, do ar! Como nunca se vê na mata
verde, sem que se seja encantado pelo canto mágico do Uirapuru! E é assim que o
Reino da criatura Curupira se parece, cheio de bichos maravilhosos. Mas, há
quem o deseje apagado... Destruído... Violado... Queimado! Por isso, o Curupira
revelou-se novamente a Nazareno, vindo do meio das árvores, com a pele cor de
madeira e os cabelos feitos de cipós, como um índio surgido da madeira das
árvores, e contou-lhe uma história de quando a maldade foi vencida pelo amor...
E foi assim:
Já se ouviram histórias
de que da árvore maldita, a Duróia, chamada de Jardins do Diabo, fogem alguns
espíritos malignos de vez em quando. Foi de lá que, certa vez, saiu o
amaldiçoado Pirarucu, um deus que, por ter zombado de Tupã, o criador, foi
transformado no peixe pirarucu e banido do Reino do Curupira. Pirarucu, num ato
de maldade, vingança e ódio, libertou da lama a Japeasú, o filho mentiroso e
ladrão dos primeiros homens criados para viverem no Reino do Curupira. Por suas
maldades, Japeasú foi transformado em um caranguejo, condenado a andar para
trás e viver na lama das beiras dos igarapés.
E despertou Japeasú da
profundeza da lama, com o coração cheio de rancor. Por ter sido homem, conhecia
bem suas fraquezas. Então, a mando do impiedoso Pirarucu, plantou no coração
dos homens o desejo de destruir a Floresta Grande, onde se esconde o Reino
Mágico do Curupira. E os homens queimaram o mato e os bichos! Transformaram a
Floresta em tudo aquilo que desejou o desamor de Pirarucu e Japeasú:
destruição!
Porém, a criatura
Curupira não foi vencida! Pediu ajuda a Tupã, o Grande Deus! Para acabar com o
desamor, só mesmo o amor dos deuses plantado no coração dos homens novamente! E
Tupã, ouvindo o clamor do Curupira, tocou com seus raios e trovões um casal de Sabiás, que faziam parte da corte
emplumada! E lhes deu ordem para voar baixo das palmas do açaizeiro e
aprisionar os corações dos casais em uma única gaiola, para que o amor de
ninguém se acabasse, pois quem ama não pensa em fazer o mal. E trouxe ainda os
deuses apaixonados para espalhar amor pela terra que o desamor queimou:
Tambatajá e Rudá, Guaraci e Jaci.
O Curupira reuniu,
então, suas criaturas mágicas, dos ares, das matas, das águas. E juntos
combateram o mal! A Matinta Perera, o Boto, a Uiara, o Mapinguari e a Boiúna,
reunidos aos espíritos guerreiros ancestrais expulsaram a maldade do Reino e
trouxeram sua Magia de volta à Floresta Grande!
Mas, era preciso que o
Curupira ensinasse alguma coisa mais aos homens para que, quando os espíritos
maus se libertassem novamente da Duróia, não repetissem o que Japeasú e
Pirarucu os incitaram a fazer. Então, o Curupira reuniu todos os homens, da
Floresta e de fora dela, e lhes contou a história de um pássaro encantado! E
lhes disse:
Certa vez havia um pássaro encantado, que tomava várias
formas. Às vezes, era rouxinol, em outras tentém, em outras tangará. Surgiu um
caçador que cobiçava a beleza do pássaro e o matou com um tiro, pois queria
vender suas penas mágicas por um dinheiro bom. Mas, quando o pássaro morreu, a
Floresta dormiu, a coruja não piava mais, os igarapés secaram, pois aquele
pássaro era a alma da Floresta. O caçador se desesperou depois do que fez e
pediu ajuda aos índios de uma tribo que achou pelo caminho e a seu pajé,
suplicou às fadas, aos nobres e feiticeiros que encontrou. Até que, o pajé, num
ritual que envolveu a todos aqueles, conseguiu ressuscitar o pássaro e trazer
de volta o equilíbrio da Floresta.
E essa foi a única
ocasião em que o Curupira apareceu para muita gente de uma só vez!
Então, para não se
esquecerem do ensinamento do Curupira, e de que tanto seu Reino e sua Magia
quanto os homens precisam da Floresta Grande para viverem, todos os anos, os
que ouviram sua história naquele dia em que ele mostrou seus olhos
incandescentes, passaram a relembrar o que ele contou, durante os festejos
animados do mês de junho, entre fogueiras, bois bumbás, quadrilhas e músicas,
pelas praças e pelos palcos dos teatros, por onde talvez o Curupira espiasse, e
chamaram o pássaro encantado de Pássaro Junino!
E foi assim que
Nazareno, o tal caçador de Saís, parou de caçar por maldade, após conhecer o
Curupira, todo seu Reino e sua Magia!
SAMBA-ENREDO:
Grêmio Recreativo
Acadêmicos de Samba da Pedreira, 1999.
Enredo: Magia no Reino
do Curupira.
Intérprete: Rico
Medeiros
Compositores: Alfredo
Oliveira e Antônio Galdino Pena
LETRA:
Papagaio louro, do bico dourado
O meu coração está engaiolado
Papagaio louro, do bico dourado
O amor bateu, estou enamorado
É a corte de penas e cores
Magia no reino do Curupira!
A passarada e seus cantores
Derramando nessa festa o valor de sua lira
O uirapuru tece a verde sinfonia
Oh, liberdade!
Só tu podes
ver raiar o dia
A Pedreira é
alegria
Vem brincar
no carnaval!
Sabiá voou baixinho
Da palma do açaizeiro
Ah, meu bem,
o teu carinho
Vou querer o
ano inteiro!
É lindo ver!
Sim , é lindo ver as aves
seduzindo a natureza
Xô! Seu caçador!
Xô! Ao desamor!
Deixe aí o show dessa beleza
Pássaro Junino, tradicional,
Dance o seu folclore original!
Grêmio Recreativo Acadêmicos de Samba da Pedreira, 1999.
Enredo: Magia no Reino do Curupira.
Intérprete: Rico Medeiros
Compositores: Alfredo Oliveira e Antônio Galdino Pena
LETRA:
Papagaio louro, do bico dourado
O meu coração está engaiolado
Papagaio louro, do bico dourado
O amor bateu, estou enamorado
É a corte de penas e cores
Magia no reino do Curupira!
A passarada e seus cantores
Derramando nessa festa o valor de sua lira
O uirapuru tece a verde sinfonia
Oh, liberdade!
Só tu podes ver raiar o dia
A Pedreira é alegria
Vem brincar no carnaval!
Sabiá voou baixinho
Da palma do açaizeiro
Ah, meu bem, o teu carinho
Vou querer o ano inteiro!
É lindo ver!
Sim , é lindo ver as aves seduzindo a natureza
Xô! Seu caçador!
Xô! Ao desamor!
Deixe aí o show dessa beleza
Pássaro Junino, tradicional,
Dance o seu folclore original!